John Wesley e a incapacidade humana


"Reconhece-te pecador e de que maneira o és. Reconhece a corrupção de tua íntima natureza, pela qual estás muito distanciado na justiça original, e pela qual a carne cobiça sempre contra o espírito mediante essa mente carnal que é inimiga de Deus, que não é sujeita à lei de Deus nem de fato o pode ser.

Sabe tu que és corrompido em toda sua capacidade, em cada faculdade de tua alma. Sabe que és totalmente corrompido em tudo isso, inteiramente pervertido. Os olhos do teu entendimento estão obscurecidos, de sorte a não poderem discernir a Deus, ou o que lhe diz respeito. As nuvens da ignorância e do erro permanecem sobre ti, envolvem-te com a sombra da morte. Ainda não sabes nada do que havíeis de saber, nem a respeito de Deus, nem do mundo, nem de ti mesmo.

Tua vontade não é mais a vontade de Deus, mas está inteiramente pevertida e falseada, avessa a todo bem, a tudo quanto Deus ama, e inclina-se para todo o mal, para toda abominação que Deus odeia. Teus afetos estão alienados de Deus e se distribuem por toda a terra. Todas as tuas paixões, sejam desejos, ou aversões, alegrias ou dores, esperanças ou temores, estão desajustadas, não se mantêm nas devidas proporções ou têm por alvo objetos impróprios.

Assim sendo, não há sanidade em tua alma, mas desde a planta do pé à cabeça (na expressão forte do profeta) não há coisa sã, senão feridas, contusões e chagas inflamadas. Tal é a corrupção inata do teu coração, de tua íntima natureza... E que frutos podem brotar de tais ramos? Só frutos amargos e ruins continuamente."

O Credo dos Apóstolos - Artigo 1



1. Creio em Deus Pai Todo-Poderoso, Criador do Céu e da Terra

"De fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam" Hb 11:6

Crer em Deus não é apenas acreditar na existência de dEle, é confiar nEle, alegrar-se nEle e saber que a vida só encontra sentido no elevado propósito de glorificá-lo. Crer em Deus é admitir que Ele é a causa primeira e o sustentador de todas as coisas visíveis e invisíveis. Crer que Ele é Deus é confessar que Ele é o Soberano do Universo e qualquer limitação a Ele atribuída implica roubar-lhe a glória da divindade.

Crer em Deus Todo-Poderoso, é assumir que Ele faz tudo o quer e que tudo o que quer faz. É pregar que Ele é soberano em vontade e poder e ensinar que a vontade do homem não pode vetar Sua vontade e que nem todos os poderes da terra e do inferno juntos podem impedir que Ele faça o que planejou fazer.

Crer em Deus Criador do céu e da terra é reconhecer que a ordem natural e as criaturas morais foram feitas pela e de acordo com a livre vontade do Senhor. É reconhecer o Seu direito de oleiro, de dispor de Sua obra conforme bem lhe parecer. É admitir que este mundo tem um propósito e que Deus o está levando infalivelmente a esse fim, de modo que Ele receba toda glória que lhe é devida.

Enfim, crer em Deus Todo-Poderoso e Criador do céu e da terra é reconhecer a verdade bíblica de que "de eternidade a eternidade, Tu és Deus" (Sl 90:2).

Bênção versus sucesso

"Era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o que é padecer; e como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado, e dele não fizemos caso." Isaías 53.3

Quando contemplamos a atuação de Jesus, vemos como Ele rejeitou decididamente o caminho do sucesso. Seus milagres foram grandes bênçãos na vida das pessoas, mas Ele insistia que não contassem o fato a outros para que a bênção não degenerasse em sucesso. Bênção é algo divino, sucesso é humano. A bênção permanece, o sucesso desaparece. Você teve sucesso no seu negócio, pôde juntar fortuna, construiu casas? E por que o seu coração é tão frio? Porque na verdade teve sucesso, mas não teve bênção. Teve sucesso nos seus esforços morais? É uma "pessoa correta" que não faz mal a ninguém? Então certamente você é uma pessoa bem vista pelos outros, mas não por Deus. Pois Sua Palavra diz: "...todas as nossas justiças [são] como trapo da imundícia." A nossa justiça desaparece como neve ao sol, mas a justiça que vale diante de Deus permanece eternamente. Você tem sucesso ou bênção? Sua justiça é seu piedoso "eu" diante de Deus, ou Jesus Cristo que verteu Seu sangue por você é sua justiça?


A providência de Silas Malafaia

Da primeira parte de uma pregação do pastor Silas Malafaia, baseada em Is 46:13, extraio o seguinte trecho, que sintetiza o ponto de vista do pregador, sendo que no restante da pregação ele se dispõe a provar essa proposição:

"Deus está no controle. Daí você pergunta: de que? E eu respondo: de tudo. Deus está no controle de tudo. Mas para que não haja confusão, pois existe uma corrente, da teologia da predestinação fatalista, que pode querer deturpar a minha palavra, e eles se confundem, exatamente aí, porque Deus está no controle de tudo, então Deus determina tudo e você não tem vontade nenhuma. Mas eu queria dizer aqui duas coisas para começar, fazer duas afirmativas, que são importantes, para que a gente daqui prá frente desenvolva e prove que o Deus que nós servimos está no controle de todas as coisas. A primeira: estar no controle não significa manipular o processo 24 horas por dia, sete dias na semana, 30 dias no mês, 365 dias no ano e toda vida. Estar no controle, não significa manipular o processo o tempo todo. E a segunda afirmativa completa a primeira. Estar no controle é você ter o poder e a autoridade para intervir, na hora que você quer, do jeito que você quer e como você quiser."


Antes de entrar no assunto propriamente dito, como sempre são necessários alguns esclarecimentos quase se dispõe a comentar as posições defendidas por não calvinistas. A primeira é que a predestinação, conforme entendida pelos reformados, não é fatalista, mas planejada e realizada por um Deus justo, sábio e bom. Além do mais, o assunto é menos sobre predestinação e mais sobre providência divina, distinção teológica importante. A segunda é que a providência divina não implica, bíblica ou logicamente, em anulação da vontade humana. O calvinismo histórico não nega a vontade humana, nega apenas que nos caídos essa vontade seja boa e livre.


A posição do pastor Silas Malafaia sobre a providência é clara. Deus detém o controle sobre tudo, mas não o exerce plenamente, intervindo apenas em algumas situações. Ele poderia determinar tudo o que acontece, mas permite ao homem escrever sua história, sendo que apenas em algumas vezes Ele guia a mão do homem sobre o papel. Essa posição livra o pastor da acusação de deísmo, corrente filosófica que admite que Deus criou este mundo, estabeleceu leis físicas para regê-lo e depois de colocá-lo para funcionar se afastou e nele não intervém. Mas, apesar disso, não representa a providência divina conforme as Escrituras, como veremos.


Segundo a Bíblia e contrariamente ao que afirma o pastor, Deus controla todas as coisas, em todos os lugares e em todo o tempo. Deus não apenas supervisiona o trabalho humano olhando por sobre seus ombros e agindo apenas quando o homem erra. O controle providencial de Deus é absoluto e não existe um só átomo dissidente no Universo. Este é o ensino das Escrituras Sagradas.

O homem não tem uma existência autônoma de Deus, mas como reconheceu o salmista "Tu, Senhor, preservas os homens e os animais" (Sl 36:6). A igreja primitiva reconhecia isso ao dizer que "Ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais" (At 17:25) e que por isso "nEle vivemos, e nos movemos, e existimos" (At 17:28). E quando a Bíblia diz que Deus dá tudo o que o homem precisa para viver não está dizendo que Ele dotou a natureza de leis que permitem dela tirar alimentos, mas que Ele "prepara a chuva para a terra, faz brotar nos montes a erva" (Sl 147:7-8). Por isso Davi orou "em ti esperam os olhos de todos, e tu, a seu tempo, lhes dás o alimento" (Sl 145:15) e nós oramos "o pão nosso de cada dia dá-nos hoje" (Mt 6:11).


Deus controla, não apenas tudo o que acontece, mas o tempo em que cada coisa acontece. O sábio Pregador disse que "tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu: há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou" (Ec 3:1-2). Quem determinou o tempo de todas as coisas? Jó responde "visto que os seus dias estão contados, contigo está o número dos seus meses; tu ao homem puseste limites além dos quais não passará" (Jó 14:5). Davi pediu a Deus "dá-me a conhecer, Senhor, o meu fim e qual a soma dos meus dias" (Sl 39:4) porque entendia que Deus sabia e já havia determinado a duração de seus anos.


Mais, Deus controla o coração e os feitos dos homens. Salomão disse ao final da vida "deveras me apliquei a todas estas coisas para claramente entender tudo isto: que os justos, e os sábios, e os seus feitos estão nas mãos de Deus" (Ec 9:1). Ele já havia dito "como ribeiros de águas assim é o coração do rei na mão do Senhor; este, segundo o seu querer, o inclina" (Pv 21:1) e "os passos do homem são dirigidos pelo Senhor; como, pois, poderá o homem entender o seu caminho?" (Pv 20:24). A verdade bíblica incontestável é que "todos os moradores da terra são por ele reputados em nada; e, segundo a sua vontade, ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?" (Dn 4:35).


Mesmo eventos por nós considerado fortuitos, casuais, são controlados por Deus. A Bíblia declara que "a sorte se lança no regaço, mas do Senhor procede toda decisão" (Pv 16:33). Por isso os discípulos oravam antes de lançar sortes: "E, orando, disseram: Tu, Senhor, que conheces o coração de todos, revela-nos qual destes dois tens escolhido para preencher a vaga neste ministério e apostolado, do qual Judas se transviou, indo para o seu próprio lugar. E os lançaram em sortes, vindo a sorte recair sobre Matias, sendo-lhe, então, votado lugar com os onze apóstolos" (At 1:24-25).


Deus controla todas as coisas. E Ele as controla de forma completa e absoluta. Isto não deve ser visto como uma ameaça para nós, pelo contrário, deve ser um motivo de conforto, pois somente assim "todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito" (Rm 8:28).

A eleição nas epístolas de Paulo

1) A eleição é desde a eternidade. Ef 1.4,5

2) A Eleição se torna evidente na vida (1 Ts 1.4). Isso não significa que alguém tenha o direito de consignar seu próximo para o inferno ou chamá-lo de réprobo: Deus vê o coração; nós, não. Além disso, nós não somos infalivelmente inspirados, como foi o ensino de Paulo. Pode haver uma conversão no leito de morte.

3) A Eleição é soberana e incondicional; isto é, não está condicionada em obras predeterminadas nem em fé prevista (1 Co 1.27,28; 4.7; Ef 1.4; 2.8). Ver também Cânones de Dort, I,ix.x. (a.Leia aqui o Cânones de Dort, b. Veja aqui a história Cânones de Dort)

4) A Eleição é justa. Rm 9.14,15

5) A Eleição não se limita aos gentios; em cada era um remanescente dos judeus também está incluído. Rm 11.5

6) A Eleição é imutável e eficaz; os eleitos realmente alcançam o céu afinal. Obtêm a salvação (Rm 11.7). A “corrente” de Deus não pode ser quebrada (Rm 8.28-30; cf, 11.29; 2 Tm 2.19).

7) A Eleição afeta a vida em todas as suas fases. Não é abstrata. Embora a eleição faça parte do decreto de Deus desde a eternidade, torna-se uma força dinâmica no coração e na vida dos filhos de Deus. Também está claro que esse é o sentido aqui em 1 Ts 1.4: [Sabendo, amados irmãos, que a vossa eleição é de Deus] ver versículo 1 Ts 1.5-10. Produz frutos tais como a adoção de filhos, a vocação ou chamamento, a fé, a justificação etc.(Rm 8.28-30,35; Ef 1.4,5; Tt 1.1). Aceitar a proposição: Se um homem foi eleito, será salvo seja como for que viva (por exemplo, quer creia em Cristo quer não, quer dê provas de possuir os frutos do Espírito Santo quer não) é ímpio e absurdo. Nenhum crente verdadeiro e são de nenhuma denominação, quer seja metodista, batista, calvinista, luterano, quer pertença a qualquer outra denominação ou grupo religioso, há de aceitar isso. Todos devem ler e reler a linda descrição da pessoa realmente eleita que se encontra em Cl 3.12-17: Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade; Suportando-vos uns aos outros, e perdoando-vos uns aos outros, se alguém tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também. E, sobre tudo isto, revesti-vos de amor, que é o vínculo da perfeição. E a paz de Deus, para a qual também fostes chamados em um corpo, domine em vossos corações; e sede agradecidos. A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando ao Senhor com graça em vosso coração. E, quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai.

8) A Eleição diz respeito a indivíduos. Rm 16.13; Fp 4.3; cf. At 9.15.

9) A Eleição compreende esses indivíduos “em Cristo”, de modo que são realmente considerados como um só corpo. Ef 1.4; 2 Tm 2.10

10) A Eleição não só é uma eleição para a salvação, como certamente também é (como um ele na corrente) para o serviço (Cl 3.12-17; cf. At 9.15,16).

11) A Eleição é ensina não somente por Paulo, mas também pelo próprio Jesus. Ver Comentário do Novo Testamento do Autor sobre João 6.39; 10.11,14,28; 17.2,9,11,24:

Jo 6:39 E a vontade do Pai que me enviou é esta: Que nenhum de todos aqueles que me deu se perca, mas que o ressuscite no último dia.

Jo 10:11 Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas.

Jo 10:14 Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido.

Jo 10:28 E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão.

Jo 17:2 Assim como lhe deste poder sobre toda a carne, para que dê a vida eterna a todos quantos lhe deste.

Jo 17:9 Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus.

Jo 17:11 E eu já não estou mais no mundo, mas eles estão no mundo, e eu vou para ti. Pai santo, guarda em teu nome aqueles que me deste, para que sejam um, assim como nós.

Jo 17:24 Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória que me deste; porque tu me amaste antes da fundação do mundo.

12) A Eleição tem como alvo principal a glória de Deus, e é obra do seu beneplácito. Ef 1.4-6

Autor: William Hendriksen. Comentário Novo Testamento, pg. 72-73, editora Cultura Cristão.
Fonte: www.teologiacalvinista.com

Calvin(ista)


Quando o livro da vida foi escrito?


O Apocalipse fala daqueles "cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida desde a fundação do mundo" (Ap 17:8). Há duas possibilidades aqui, interpretar a expressão como significando que os nomes de todos os salvos estavam registrados no Livro da Vida desde a fundação do mundo ou que o nome de cada pessoa é escrito quando o evangelista ora pelo decidido, pedindo a Deus que escreva o seu nome no livro da vida.

Esta última posição é a defendida pelo Pr. Ciro Sanches Zibordi, numa interessante série sobre o Livro da Vida, escrita sob uma ótica anti-calvinista (já que dizer sob uma ótica arminiana pode soar como zombaria).

Observemos um detalhe, antes da análise em si. A passagem em questão não fala dos que tiveram seus nomes escritos no Livro da Vida e sim dos que não tiveram os seus nomes registrados nesse memorial. A relevância disso terá que ficar para uma análise posterior.

A expressão "desde a fundação do mundo" no grego é "apo kataboles kosmou", composta por uma preposição, seguida de um substantivo e de seu complemento. É uma expressão relativamente comum no Novo Testamento, sendo que exatamente como em Ap 17:8 ocorre mais seis vezes (Mt 13:35; 25:34; Lc 11:50; Hb 4:3; 9:26; Ap 13:8). Uma leitura atenta dessas passagens demonstra que a idéia não é de algo que vem sendo realizado de forma continuada a partir da fundação do mundo, mas de algo considerado consumado desde esse momento, com possível excessão de Lucas 11:50.

Assim, quando o profeta disse "publicarei coisas ocultas desde a criação do mundo" (Mt 13:35) não estava se referido a segredos gradativamente ocultados, mas de algo completamente oculto desde o princípio. Quando Jesus disse que o reino dos benditos do Pai estava "preparado desde a fundação do mundo" (Mt 25:34) não pretendia que os discípulos entendessem que o reino era preparado para cada um deles quando se convertiam, mas que tudo já estava preparado quando esse mundo foi trazido à existência. O mesmo pode ser dito das obras "concluídas desde a fundação do mundo" (Hb 4:3), obras estas necessárias ao descanso dos santos. Deus não toma providências para o destino dos salvos no momento em que crêem, mas desde a fundação do mundo tudo está pronto. Isto inclui a morte de Cristo como provisão para a salvação, que embora se diga que "foi morto desde a fundação do mundo" (Ap 13:8) não singifica que Ele sofreu "muitas vezes desde a fundação do mundo" mas uma única "vez por todas" (Hb 9:26). Vimos que a idéia expressa pela frase "desde a fundação do mundo" enfatiza algo realizado de forma completa quando os fundamentos do mundo foram lançados e não algo que vem sendo feito desde então.

O pastor Ciro faz a sua tese depender da preposição "apo" e não da expressão completa. Porém, a classe de palavra que tem tempo e modo é o verbo, e é para ele que devemos nos voltar se quisermos saber quando e de que forma algo ocorre. Devemos perguntar ao texto "o que [não] ocorreu antes da fundação do mundo?" e a resposta é "nomes [não] foram escritos".

O verbo "gegraptai" está no tempo Perfeito e no modo Indicativo. O modo Indicativo, nos informa o Léxico Grego de Strong "é uma simples afirmação de fato. Se uma ação realmente ocorre ou ocorreu ou ocorrerá, será expressa no modo indicativo". Já o "Perfeito grego corresponde ao Perfeito na língua portuguesa, e descreve uma ação que é vista como tendo sido completada no passado, uma vez por todas, não necessitando ser repetida". Portanto, a passagem não se refere a algo que vem sendo feito a cada oração de pregador por um convertido, mas de algo que foi completado de forma cabal no passado. Se João quisesse enfatizar uma ação iniciada no passado e realizada ao longo do tempo teria usado o verbo no Aoristo, que aliás é o tempo (aspecto) mais comum no grego.

Concluimos que a expressão desde a fundação do mundo não significa "começando lá e continuando até o último convertido". Mas se refere a algo que estava concluíndo quando Deus lançou os fundamentos da terra, antes de criar o primeiro homem.

Simplesmente porque Deus é Deus


"Nosso primeiro postulado é que, porque Deus é Deus, Ele faz o que Lhe agrada, somente o que Lhe agrada, sempre o que Lhe agrada; que Seu grande interesse é a realização do Seu próprio beneplácito e a promoção de Sua própria glória; que Ele é o Supremo Ser, e, portanto, Soberano do universo" (A. W. Pink)

Aliança e Testamento


Baseando-se no fato de que algumas traduções da Bíblia trazer aliança e outras testamento em Mt 26:28, um irmão perguntou:

"Qual a diferença de Testamento para aliança?"

Na Bíblia, os termos Testamento e Aliança são praticamente intercambiáveis. Numa mesma tradução, a palavra diatheke é traduzida, ora como aliança, ora como testamento. Veja o exemplo seguinte:

"Por isso mesmo, ele é o Mediador da nova aliança, a fim de que, intervindo a morte para remissão das transgressões que havia sob a primeira aliança, recebam a promessa da eterna herança aqueles que têm sido chamados. Porque, onde há testamento, é necessário que intervenha a morte do testador" Hb 9:15-16

No exemplo acima, as palavras negritadas são as mesmas no original, ou seja, diatheke, que segundo Strong significa tanto "arranjo de qualquer natureza que se espera que seja válido, última disposição que alguém faz de suas posses terrenas depois de sua morte, testamento ou vontade" como "pacto, acordo, testamento".

Veja nas citações abaixo de Mt 26:28 que diatheke é traduzido como aliança e como testamento, dependendo da versão:

"porque isto é o meu sangue, o sangue da [nova] aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados" (Revista e Atualizada)

"Porque isto é o meu sangue, o [sangue] do Novo Testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados." (D'Almeida)

"Porque isto é o meu sangue, o [sangue] do Novo Testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados" (Revista e Corrigida)

"porque este é o meu sangue, o sangue da aliança, que é derramado por muitos para remissão de pecados" (Tradução Brasileira)

"porque isto é o meu sangue, que é derramado em favor de muitos para o perdão dos pecados, o sangue que garante a aliança feita por Deus com o seu povo" (Nova Tradução na Linguagem de Hoje)


Concluindo: aliança e testamento tem o mesmo significado na Bíblia.

O nome de Deus

"É algo muito perigoso brincar, fazer piadas e mencionar de forma irreverente e irresponsável o nome ou as obras de Deus. Às vezes, ouço crentes fazendo piadas em que ridicularizam a pessoa de Deus, ou mais especificamente o Senhor Jesus, fazem para entreter pecadores com o santo nome do Todo-Poderoso. Como é comum que pecadores corram inconseqüentemente, onde os anjos até mesmo temem pisar!"

Ewerton Barcelos Tokashiki
In: Os dez mandamentos da família 3

O poder transformador das Escrituras

Elas têm mudado seus corações. Alguns por lerem as Escrituras têm se tornado outras pessoas; tem sido feitos santos e graciosos. Por lerem outros livros o coração é inflamado, mas por lerem as escrituras ele é transformado. 2. Co. 3:3. “Estando já manifestos como cartas de Cristo, produzida pelo vosso ministério, escrita não com tinta, mas pelo Espírito do Deus vivente”.

A Palavra foi escrita dentro de seus corações, e elas são provenientes da carta de Cristo, de tal modo que outros podem ler Cristo neles. Se você colocar um selo sobre a escultura, e colocar um carimbo nele, haverá uma notável virtude neste selo; então quando o selo da Palavra tem um carimbo da graça celestial, há necessidade de haver um poder agindo com a Palavra, não menos que divino. Isto conforta seus corações. Quantos cristãos têm passado por rios de lágrimas, a Palavra tem gotejado como mel, e docemente revive-os. O principal conforto do cristão é extrair as fontes de salvação. Rm. 15:4. “é pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança”.

Quando a pobre alma está pronta para a morte, não há nada para confortá-la senão o estímulo das Escrituras. Quando está doente a Palavra revitaliza-o 2 Co.4:17. “Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória”. Quando está deserta a Palavra pinga-nos o óleo dourado da alegria. Lm. 3:31. “O Senhor não rejeitará para sempre”.

Ele modifica sua providência, não seu propósito; ele tem os olhos de um inimigo, mas o coração de um pai. Assim a Palavra tem o poder de confortar o coração. Sl.119:50 “O que me consola na minha angústia é isto, que a tua Palavra me vivifica”. Como vida é transmitida pelas artérias do corpo, assim os confortos divinos são transmitidos através das promessas da Palavra. Agora as Escrituras tem esta alegria, o poder de confortar o coração deles, mostra claramente que eles são de Deus, e que foi ele que colocou o leite da consolação em seus seios.

Extraído de Thomas Watson, A Body of Divinity, p. 29.

Fonte: Traductione Reformata

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O livre-arbítrio é bíblico?


Num dos grupos que participo, alguém postou parte de um artigo do Pr. Ciro Sanches Zibordi em defesa do livre-arbítrio. O que segue é meu comentário, postado no grupo e reproduzido aqui para apreciação.


- \o/ -

Não gosto de responder a argumentos de quem não está no grupo, pois não se dá a oportunidade da pessoa contra-argumentar ou até mesmo esclarecer algum ponto mal entendido de suas palavras. Mesmo assim, vou comentar o seu post e publicar em meu blog, indicando ao autor caso queira se manifestar a respeito.


Não conheço o autor do artigo e escrevo sem atacar a sua pessoa, pois se o fizesse estaria pecando por falar mal de quem sequer conheço e suponho seja um homem de Deus, levantado para apascentar um rebanho do Senhor.

Portanto, no que segue nada há de pessoal.
Sendo assim, começo dizendo que o autor foi infeliz, ao começar o artigo dizendo que "certos irmãos predestinalistas tem zombado de quem crê na doutrina do livre-arbítrio", que "o que eles mais gostam de fazer é ridicularizar os seus irmãos" e que eles "chegam ao ponto de crer mais em Calvino que no Senhor Jesus". Generalizações são sempre ruins, pois há excesso e desrespeito de ambos os lados, mas não representam os santos que tem discordado amorosamente, buscando na Palavra de Deus uma compreensão mais clara sobre este importante e controvertido assunto.

O autor declara "você não entende o livre-arbítrio? Mas ele é bíblico!" e afirma mais adiante que "o livre-arbítrio é uma verdade bíblicocêntrica e cristalina". São afirmações fortes, e grandes declarações requerem provas robustas. Mas antes mesmo de considerar as provas apresentadas, convém deixar claro que o livre-arbítrio não é e nunca foi uma verdade central na escritura. Cristo é o centro da Bíblia, e se fôssemos comparar, a doutrina da soberania divina é sim presente na Bíblia, de Gênesis a Apocalipse. O termo livre-arbítrio, um sinônimo ou mesmo a idéia de livre-arbítrio jamais ocorre na Bíblia.


Nem tudo o que o autor diz em seu texto contraria o que eu creio. Além dos conselhos dados no final da mensagem, concordo plenamente quando ele diz que "foi Deus quem dotou o ser humano da livre-vontade (Gn 3)". Aliás todos os calvinistas que eu conheço ou tive oportunidade de ler crêem que o homem foi dotado de livre-arbítrio na criação.


As divergências começam quando, o autor afirma "mesmo depois da Queda, e os efeitos deletérios advindos dela, o ser humano continuou com esse atributo (Dt 30.19; Is 1.18,19)".
Antes de analisar esta declaração, convém definir o que é livre-arbítrio e o que não é.

Livre-arbítrio é a capacidade de todo pecador de escolher igualmente entre a salvação e a perdição, entre crer e descrer de Cristo. Não creio que o homem tenha essa capacidade. Mas livre-arbítrio não é, como confundem alguns, vontade, liberdade ou escolha. Não negamos que o homem tenha vontade, apenas que essa vontade seja naturalmente boa e livre. Não negamos que o homem seja livre, no sentido de que toma decisões livremente, de acordo com a sua natureza; apenas afirmamos que sua natureza está corrompida pelo pecado e por isso não decide em favor de Deus. E, finalmente, não negamos que o homem faça escolhas, mas discordamos que tenha poder de fazer boas escolhas espirituais. Em adição, afirmamos que essa incapacidade absoluta do homem é suplantada pela graça invencível do Senhor.


Tendo isso em mente, consideremos as passagens bíblicas colocadas como prova da biblicidade do livre-arbítrio. Mesmo sabendo que isso alonga o texto, prefiro transcrever os textos bíblicos, pois nem sempre o leitor tem uma Bíblia em mãos e pode se esquecer de confirmar as passagens depois.
Uma das passagens referenciadas pelo autor diz "os céus e a terra tomo, hoje, por testemunhas contra ti, que te propus a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua descendência" Dt 30:19.

A passagem acima não ensina que o homem tem capacidade de fazer uma boa escolha espiritual, apenas que uma escolha foi posta diante dele. E o que eles escolheram? A história comprova que eles, escolhendo livremente de acordo com sua natureza caída optaram pela morte e maldição. Deus, que não precisa do testemunho da história, já sabia disso, pois disse a Moisés poucos versículos adiante: "eis que estás para dormir com teus pais; e este povo se levantará, e se prostituirá, indo após deuses estranhos na terra para cujo meio vai, e me deixará, e anulará a aliança que fiz com ele" (Dt 31:16). Deus não botava muita confiança no livre-arbítrio daquele povo. Moisés também não, pois acrescentou, dirigindo-se ao povo "porque conheço a tua rebeldia e a tua dura cerviz. Pois, se, vivendo eu, ainda hoje, convosco, sois rebeldes contra o Senhor, quanto mais depois da minha morte?" (Dt 31:27). O resto é história.


Diante de uma escolha, sem nenhuma coerção externa, decidindo de acordo com sua natureza, o povo escolheu pecar. Isto prova um livre-arbítrio capaz de escolher o bem? De jeito nenhum, se prova algo, prova exatamente o contrário.


O outro texto mencionado é "vinde, pois, e arrazoemos, diz o Senhor; ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã. Se quiserdes e me ouvirdes, comereis o melhor desta terra" (Is 1:18-19). Em primeiro lugar, notemos que o versículo fala apenas que aquele que for, quiser e ouvir terá perdão de pecados e comerá do bem da terra. Nada diz sobre uma capacidade inata de ir, querer e ouvir. Outras partes da Bíblia mostram que o pecador não tem essa capacidade em si mesmo.

Mas o mesmo capítulo faz uma descrição do pecador que longe de retratá-lo com capacidade plena de escolher entre uma opção e outra, o mostra como incapacitado pela enfermidade do pecado. Nas palavras do Senhor "toda a cabeça está doente, e todo o coração, enfermo. Desde a planta do pé até à cabeça não há nele coisa sã, senão feridas, contusões e chagas inflamadas, umas e outras não espremidas, nem atadas, nem amolecidas com óleo" (Is 1:5-6). Se alguém disser que essa condição dele é apenas física e que espiritualmente ele está capacitado a fazer boas escolhas, então o Senhor diz, no mesmo capítulo, "o boi conhece o seu possuidor, e o jumento, o dono da sua manjedoura; mas Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende" (Is 1:3). Se o homem nessa condição tem livre-arbítrio, muito mais o tem bois e jumentos, pois estes conhecem o seu dono, já o pecador não tem conhecimento nem entendimento que o capacite a fazer uma escolha pelo Senhor.

Porém, descuido muito maior o autor do texto teve ao afirmar: "e a condição hoje para a salvação em Cristo é — mediante o livre-arbítrio — arrepender-se e crer no evangelho (Jo 3.16,36; Mc 16.16; At 3.19; Rm 10.9,10; Ap 22.17)". Com essa afirmação, o autor atribui ao livre-arbítrio a capacidade de crer e se arrepender. Mas uma análise das passagens bíblicas referenciadas mostra que essas passagens não provam o que se pretende provar.


No capítulo 3 de João, Jesus diz que "Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (Jo 3:36) e que "quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus" (Jo 3:36). Nada nessas passagens sequer sugere que o que leva a pessoa à fé é o livre-arbítrio. Tampouco quando diz "quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado" (Mc 16:16) ou ordena "arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados" (At 3:19) o livre-arbítrio é insinuado. De igual modo, a promessa "se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação" (Rm 10:9-10) não requer o livre-arbítrio, tão somente destaca a fé e a confissão como requisitos da salvação. E, finalmente, quando "o Espírito e a noiva dizem: Vem! Aquele que ouve, diga: Vem! Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida" (Ap 22:17) não fala nem sugere que é pelo poder do livre-arbítrio que alguém recebe a água da vida.

Em resumo, em nenhuma dessas passagens é dito que o arrependimento e a fé nascem ou ocorrem mediante o livre-arbítrio. Afirmar isso é impor um sentido que não era a intenção do autor, ou seja, é fazer eis-egese e não ex-egese.

Por outro lado, a Escritura deixa bem claro que tanto o arrependimento como a fé são dons de Deus e não produtos do livre-arbítrio. Inúmeras passagens provam isso. Paulo escreve aos crentes de Éfeso que nós cremos "segundo a eficácia da força do Seu poder" (Ef 1:19) e por isso pode afirmar "pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus" (Ef 2:8). Também aos filipenses ele escreveu "vos foi concedida a graça... de crerdes nEle" (Fp 1:29). Paulo não está inventando moda, pois Jesus já havia dito que "ninguém poderá vir a mim, se, pelo Pai, não lhe for concedido" (Jo 6:65), derrubando assim a presunção de que é mediante o livre-arbítrio que alguém vai a Cristo.

Semelhante coisa pode ser dita do arrependimento, que não é obra de um livre-arbítrio bem utilizado, mas uma graça concedida pelo Senhor. Lucas registrou na segunda parte de seu livro que "também aos gentios foi por Deus concedido o arrependimento para vida" (At 11:18). Paulo repreende aqueles que desprezam "a riqueza da sua bondade, e tolerância, e longanimidade, ignorando que a bondade de Deus é que te conduz ao arrependimento?" (Rm 2:4). Certamente ele diria algo parecido aos que atribuem ao livre-arbítrio o arrepender-se quando "a tristeza segundo Deus" é que "produz arrependimento para a salvação" (2Co 7:10), ficando na "expectativa de que Deus lhes conceda não só o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade" (2Tm 2:25).

Em conclusão, podemos ainda invocar o testemunho de Tiago de que "toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes" (Tg 1:17) e não da natureza caída do homem.

Para finalizar, o autor disse "portanto, caro irmão, seja humilde para reconhecer o seu equívoco interpretativo", o que não deixa de ser um excelente conselho. Faço votos de que ele reveja a sua posição e se concluir que equivocou-se na interpretação, tenha humildade para seguir o bom conselho que deu.

Soli Deo Gloria

Acerca dos eleitos - 7


Respostas de Francisco Leonardo Schalkwijk, doutor em história e pastor emérito da Igreja Evangélica Reformada, por 40 anos missionário no Brasil. É autor de Confissão de Um Peregrino — para entender a eleição e o livre-arbítrio, que acaba de ser lançado pela Editora Ultimato.

O pecador pode fazer alguma coisa para se colocar entre os eleitos e Deus?

Quando o apóstolo Paulo escreve que a “graça salvadora” se manifestou “a todos os homens” (Tt 2.11), ele nos faz lembrar com profunda gratidão que naquele primeiro Natal chegou o Salvador do mundo, como também escreveu o apóstolo João (1 Jo 4.14). O Senhor Jesus Cristo é o Amado, o Filho de Deus (Mt 17.5). Quem abraçar essa “graça salvadora”, sem dúvida, foi eleito (Ef 1.6). Pois Ele disse: “O que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora” (Jo 6.37)!

Fonte: Ultimato

Predestinação e expiação


Recebi, por email o seguinte questionamento:

"Conversando com um amigo sobre a predestinação, ele me disse que se ela for verdadeira, a morte de Jesus teria sido em vão. O que posso dizer a ele sobre isso?"

Esta é uma objeção comum à doutrina da predestinação. O que não significa que seja uma objeção válida ou que coloque em risco a doutrina que louva a soberania de Deus. Uma análise, mesmo que superficial, demonstra que essa objeção não tem consistência lógica nem fundamento bíblico. Senão vejamos.

Sob uma ótica puramente lógica, a objeção faz a eficácia da morte de Cristo depender da inexistência da predestinação. Vejamos o que é predestinação e expiação e depois analisemos se são auto-excludentes. Predestinação é o conselho eterno e imutável pelo qual Deus escolhe e conduz para a salvação um número fixo de pessoas, sem levar em conta a dignidade deles. E expiação é o ato realizado na história pelo qual todos os que foram predestinados para a vida eterna são comprados para Deus. Olhando essas definições nós vemos que predestinação e expiação são complementares, não contraditórias. Predestinação é o planejamento da salvação, a expiação é o provimento dos meios necessários à salvação e a chamada eficaz é a aplicação dessa salvação. Assim, vemos que as duas doutrinas não apenas são harmônicas como enfatizam o papel de cada membro da Trindade na realização da salvação.

Embora as leis da lógica não sejam violadas, uma verdade é estabelecida pela Escritura e duas doutrinas supostamente contraditórias devem ser mantidas se forem ensinadas no Livro de Deus. E a verdade incontestável é que tanto a predestinação como a morte vicária de Cristo são doutrinas enfatizadas nas escrituras. Isto deveria nos refrear de aceitar uma em detrimento de outra apenas porque, em nossa mente finita elas parecem se contradizer.

Mesmo assim, o caso é que nas escrituras o decreto da predestinação e a redenção pelo sangue de Cristo são pronunciados, muitas vezes, num só fôlego. Vejamos por exemplo Efésios 1:3-11. Paulo fala da predestinação, da morte de Cristo e de novo da predestinação sem intercalar sequer um ponto de final entre essas verdades. Veja:

"Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que (...) nos escolheu nele antes da fundação do mundo (...) nos predestinou para ele (...) no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados (...) predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade" (Ef 1:3-11)

O texto acima afirma que Deus "nos escolheu nele antes da fundação do mundo" e que "em amor nos predestinou para ele" segundo "o propósito daquele que faz todas as coisas segundo o conselho da sua vontade" e que "temos a redenção, pelos eu sangue, a remissão dos pecados". Ou seja, ao invés de anular ou tornar desnecessária a morte de Cristo, a predestinação converge para a morte de Cristo como a realização do "beneplácito que propusera em Cristo" na eternidade imemorável.

Veja ainda a seguinte passagem que diz que Deus "nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos, e manifestada, agora, pelo aparecimento de nosso Salvador Cristo Jesus, o qual não só destruiu a morte, como trouxe à luz a vida e a imortalidade, mediante o evangelho" (2Tm 1:9-10). Veja a estreita relação entre a "determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos" (predestinação) e a manifestação da salvação por Cristo Jesus que "não só destruiu a morte, como trouxe à luz a vida e a imortalidade" (expiação).

A predestinação não torna desnecessária a morte de Jesus, pois esta estava contida naquela. Pedro declarou que Jesus foi "entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus" (At 2:23), ou seja, a morte de Jesus era necessária para que o desígnio da predestinação fosse alcançado, por isso oravam reconhecendo que a morte de Jesus foi para cumrpir "tudo o que a tua mão e o teu propósito predeterminaram" (At 4:28). É porque a morte de Jesus estava contida no decreto da predestinação que João escreveu sobre o "Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo" (Ap 13:8).

Do exposto acima, e mais se poderia dizer, concluímos que o argumento de que a predestinação torna sem sentido a morte de Jesus é infundado e contrário ao claro ensinamento da escritura, tanto sobre a predestinação como sobre a expiação.

Jacó Armínio e o livre-arbítrio

“Esta é minha opinião acerca do livre-arbítrio do homem: em sua condição primitiva, como ele saiu das mãos do seu Criador, o homem foi dotado de tal porção de conhecimento, santidade e poder que o capacitava a entender, apreciar, considerar, desejar e realizar boas obras, de acordo com o mandamento que lhe foi dado. Contudo, nenhum desses atos poderia ele fazer, exceto pela assistência da graça divina. Mas em sua queda e estado pecaminoso, o homem não é capaz, de e por si mesmo, pensar, querer ou fazer o que é realmente bom; mas é necessário que seja regenerado e renovado em seu intelecto, afeições ou vontade e em todo o seu poder, por Deus em Cristo através do Espírito Santo, para ser capaz de compreender corretamente, apreciar, considerar, desejar e realizar o que quer que seja verdadeiramente bom. Quando ele é feito um participante dessa regeneração ou renovação, eu considero que, desde que ele é liberado do pecado, ele é capaz de pensar, desejar e fazer o que é bom, mas mesmo assim, não sem a contínua ajuda da Divina Graça.” (Declaração de Sentimentos de Armínius)

O propósito da Bíblia

A Bíblia é a Palavra de Deus - isto é a principal coisa a saber a seu respeito. Não podemos por nós mesmos encontrar a Deus. Ele se revela, e é confiável, em suas obras. "Os atributos invisíveis de Deus, assim como o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das cousas que foram criadas" (Rm 1:20).

Mas, precisamos conhecer muito mais do que o seu "eterno poder e divindade". Somos pecadores, e necessitamos conhecer a sua bondade e os meios que Ele forneceu para salvar-nos. Este é o tema da Bíblia.

A Bíblia nos revela o caminho da salvação. O caminho apresentado no Antigo Testamento; e, no Novo Testamento, na vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo, é realizado este maravilhoso plano. Não poderíamos descobrí-lo por nós mesmos. "Porque qual dos homens sabe as cousas do homem, senão o seu próprio espírito, que nele está? Assim, também as cousas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus" (1 Co 2:11). Se vamos conhecer a Deus, Ele precisa falar-nos. Ele nos fala na Bíblia.

Extraído de J. Gresham Machen, The New Testament - An Introduction to its Literature and History, p. 16

Fonte: Traductione Reformata

Credo dos Apóstolos

O Credo dos Apóstolos pode ser chamado de "a fé dos antigos". Mal visto pelos evangélicos, que o tem como "reza dos católicos", é praticamente desconhecido pela igreja evangélica, que perde muito com isso. Pois a "a fé dos antigos" é a nossa fé. E fazemos bem em atentar para ela, como filhos reverentes que ouvem a sabedoria de seus pais.

O Credo dos Apóstolos não é católico-romano, pois sua origem é anterior à romanização da igreja, embora seu desenvolvimento histórico tenha se dado quando a ICAR já existia. E tampouco é uma "reza" ou prece decorada como as muitas existentes na igreja romana. O Credo Apostólico é uma confissão de fé, uma declaração de crença, que expressa o ensinamento bíblico essencial aos crentes em Jesus. Aceitar o credo apostólico não é tornar-se papista, pois os reformadores não apenas aceitavam, como ensinavam o Credo à igreja protestante e no entanto rejeitavam o papado.

Se você não conhece o credo, leia-o abaixo. Querendo Deus, publicaremos uma série de meditações sobre os doze artigos de fé que compõem o Credo dos Apóstolos.



Credo dos Apóstolos


Creio em Deus Pai Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra.

E em Jesus Cristo, seu Filho unigênito, nosso Senhor;
Concebido pelo Espírito Santo e nascido da Virgem Maria;
Que padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado,
E ao terceiro dia ressurgiu dos mortos;
Que subiu ao céu e assentou-se à direita do Pai Todo-Poderoso
De onde há de vir para julgar os vivos e os mortos.

Creio no Espírito Santo,
Na santa igreja católica, na comunhão dos santos,
Na remissão de pecados,
Na ressurreição da carne e
Na vida eterna.

R. C. Sproul e o livre-arbítrio

"Concluímos que o homem decaído é ainda livre para escolher o que deseja, mas, porque seus sentimentos são maus, falta-lhe a capacidade moral de vir a Cristo (...) Ele não pode escolher a Cristo precisamente porque não pode agir contra sua própria vontade. Ele não tem desejo por Cristo. Ele não pode escolher o que não deseja. Sua queda é grande. É tão grande que somente a graça efetiva de Deus operando em seu coração pode trazê-lo à fé."

Acerca dos eleitos - 6


Respostas de Francisco Leonardo Schalkwijk, doutor em história e pastor emérito da Igreja Evangélica Reformada, por 40 anos missionário no Brasil. É autor de Confissão de Um Peregrino — para entender a eleição e o livre-arbítrio, que acaba de ser lançado pela Editora Ultimato.

Se Jesus morreu por todos, como Paulo afirma (2 Co 5.15), por que só os eleitos são beneficiados por sua morte vicária?

Creio que respondi a essa pergunta quando falei sobre graça geral e graça especial. Mas devo acrescentar algo. Sem dúvida, o Senhor Jesus, como Cordeiro de Deus, é tanto o “mediador da aliança” como também o “mediador da criação”, do universo e da igreja (Cl 1.16-20). Sol e chuva, vida e felicidade em geral, são bênçãos gerais possíveis pela morte do Cordeiro. Paulo fala, por exemplo, que Deus “havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, quer sobre a terra, quer nos céus” (Cl 1.20). “Apaziguou” a criação rebelada.

Porém essa “graça comum” somente ameniza os efeitos do pecado, mas não tira a culpa do pecado. Ou será, quem sabe, no fim, uma chegada segura para todo o mundo, uma anistia geral? Uma salvação universal, como o universalismo ensina? Eu queria, tu querias... que fosse verdade! Mas, infelizmente, é outra mentira do enganador (Ap 20.10).

Infelizmente, o inferno existe e não estará vazio. Há quem vai passar do ponto... (Lc 12.5; Ap 20.15). Mas hoje ainda é dia de salvação! (2 Co 6.2).

Fonte: Ultimato