Mãos ao alto!

Em sua cobiça, tais mestres os explorarão com histórias que inventaram. Há muito tempo a sua condenação paira sobre eles, e a sua destruição não tarda. 2 Pedro 2:3
No filme Os Vigaristas o personagem vivido por Nicolas Cage é um estelionatário que não se considerava criminoso, apesar de fazer pessoas comprarem por centenas de dólares um produto que valia menos de cinquenta, sob a promessa de ganhar um “grande prêmio”. “Nunca tirei nada de ninguém que a pessoa não quisesse me dar e jamais ameacei com uma arma ou usei de violência”, justificava-se. Ele se via como um justiceiro por manipular a ambição de pessoas ávidas por obter vantagens, pois acabava lhes ensinando uma lição, ficando com o dinheiro delas.

Descrever o que acontece em muitos cultos no momento dedicado à entrega de dízimos e oferta como um “golpe” ou “assalto” pode parecer exagerado, ainda mais que há sólida base bíblica para defender a contribuição financeira como parte da adoração no culto. Porém, evitando-se a generalização, a dura realidade é que vezes demais o momento das ofertas é transformado numa sessão de extorsão do dinheiro alheio, através de métodos questionáveis, quando não criminosos.

Um dos meios mais eficazes é levar as pessoas a contribuir esperando receber muito mais em troca. Em retribuição sacrifício exigido, o ofertante receberia bens materiais, saúde, bênçãos familiares e posição social numa proporção direta ao valor entregue. Quanto mais a pessoa der, em valores absolutos ou proporcional à sua renda, maior seria o retorno. E o ápice do sacrifício seria dar tudo, onde s analogia da fogueira na qual tudo é queimado é usada. E a fé é identificada com a coragem de dar tudo o que tem ou o que eventualmente estava reservado para outro fim. Essa lógica está tão arraigada que um famoso pregador da prosperidade chamou de trouxa alguém que se disponha a ofertar por amor, sem a intenção de receber de volta muito mais.

Mas, por mais forte que seja a lógica, ela não funcionaria se as “vítimas” não forem movidas pela ambição de ficar rico de maneira rápida e milagrosa. Como nos golpes de bilhetes premiados, para dar certo a cumplicidade do otário é fundamental. Somente aqueles que estão interessados em levar vantagem, sem se preocupar se de forma lícita ou não, é que caem nesses golpes. O mesmo pode ser dito das multidões que todos os domingos e nas campanhas de sextas-feiras entregam seu dinheiro esperando que na semana seguinte um valor seja misteriosamente depositado em suas contas. A ganância os cega para cuidados elementares que deveriam ter.

Menos elegante, porém mais eficaz, são os métodos que lançam mão de ameaças de maldição para fazer o povo esvaziar os bolsos. Mesmo que a pessoa não seja ambiciosa pode ser assustada com demônios travestidos de gafanhotos. Se roubar do homem já sujeita o ladrão ao castigo, quanto maior será a punição aos que roubam a Deus? E assim, por via de uma exegese interesseira, amedronta-se os dizimistas e ofertantes, cuja única alegria que experimentam no ofertar é serem livrados de todas essas tragédias. A “teologia do terror” leva uma vantagem sobre a “teologia da barganha”: a fidelização. Alguém que caiu no “conto do pastor” e ficou de mãos vazias, pode não se satisfazer com a explicação de que lhe faltou fé para tomar posse da bênção e deixar a igreja. Porém, o aterrorizado vai querer que os gafanhotos continuem acorrentados e vai continuar apaziguando Deus com suas ofertas. Numa eventual crise, pensará que está sonegando parte de seus dízimos e ofertas, e irá aumentar sua contribuição.

Mas nada funciona tão bem como combinar promessas com ameaças, mostrando numa mão as bênçãos que podem ser compradas e na outra as desgraças que podem advir do fechar a mão. E se a pessoa for do tipo gananciosa assustada, o vigarista de púlpito está feito.

Em Cristo,

SEJA O PRIMEIRO A

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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