Por que não sou pedobatista? - 5


Argumentos teológicos

Com exceção da igreja romana e a grega, além de uma parte dos anglicanos, os defensores do batismo  infantil não afirmam que ele produz a regeneração ou assegura a salvação. Portanto, a discussão do batismo infantil passa ao largo da salvação em si, pois se entre os batizados na infância há os que jamais irão crer, também há entre os que se batizam mediante profissão de fé os que são meros professos. Portanto, a menos que se defenda a regeneração batismal, o batismo infantil não é, de forma alguma, necessário à salvação. Aliás, foi uma visão equivocada de batismo e salvação que deu origem à prática generalizada do batismo infantil.

Em minha avaliação pessoal, o mais persuasivo dos argumentos pedobatistas é o da aliança da graça, do qual o batismo seria o sinal visível. Uma fragilidade inicial desse argumento, contudo, é que o mesmo é relativamente novo, tendo sua origem em Lutero e Zwinglio e seu desenvolvimento em Calvino e Knox, não sendo encontrado antes deles, mesmo retrocedendo até os pais apostólicos. O ponto principal desse argumento é a continuidade das duas alianças, na verdade, a existência de uma única aliança da graça, com mudança apenas dos sinais exteriores. O pedobatismo se fundamenta no fato de que as crianças eram incluídas nas bênçãos da antiga aliança. Sendo a nova aliança a mesma e única aliança da graça, os filhos dos crentes também estão incluídos na mesma e portanto não há razões para não serem batizados. 

Registre-se, porém, que rejeitar o pedobatismo baseado na doutrina da aliança não significa rejeitar a doutrina da aliança em si. Assim como nem todo pedobatista é aliancista, muitos credobatistas o são, inclusive este que vos escreve. Cremos em uma única aliança da graça, aceita pela fé tanto no Antigo como no Novo Testamento, mas discordamos do batismo infantil, por ser um passo além do que a teologia permite ou exige.

Aliança de Deus com Abraão tinha dois elementos distintos, a posse da terra numa unidade nacional ("À tua descendência darei esta terra" Gn 12:7) e uma descendência espiritual ("em ti serão benditas todas as famílias da terra" Gn 12:3). Vemos estes aspectos desdobrados nas fases da aliança abraâmica. Na primeira, Deus lhe diz "olha agora para os céus, e conta as estrelas, se as podes contar. E disse-lhe: Assim será a tua descendência" (Gn 15:5), apontando para os crentes de todas as nações. Neste aspecto, a aliança é unilateral e nada é exigido de Abraão, que apenas "creu ele no SENHOR, e imputou-lhe isto por justiça" (Gn 15:16). Já no aspecto nacional da aliança, é introduzida a exigência de obediência "anda em minha presença e sê perfeito" (Gn 17:1) seguida da promessa "te darei a ti e à tua descendência depois de ti, a terra de tuas peregrinações, toda a terra de Canaã em perpétua possessão" (Gn 17:8). Aqui a aliança não é unilateral, pois diz "esta é a minha aliança, que guardareis entre mim e vós, e a tua descendência depois de ti: Que todo o homem entre vós será circuncidado" (Gn 17:10) e a reação do patriarca foi "e circuncidou a carne do seu prepúcio, naquele mesmo dia, como Deus falara com ele" (Gn 17:23).

Portanto, a circuncisão não está associada à descendência espiritual de Abraão, mas à descendência física, a nação de Israel a quem foi dada a terra prometida. A circuncisão é o sinal da entrada na teocracia, e não na descendência espiritual. Para estes, não há sinal visível, senão a fé, pois Paulo diz "portanto, é pela fé, para que seja segundo a graça, a fim de que a promessa seja firme a toda a posteridade, não somente à que é da lei, mas também à que é da fé que teve Abraão, o qual é pai de todos nós" (Rm 4:16). Anteriormente Paulo já havia dito "Como lhe foi, pois, imputada? Estando na circuncisão ou na incircuncisão? Não na circuncisão, mas na incircuncisão. E recebeu o sinal da circuncisão, selo da justiça da fé, quando estava na incircuncisão, para que fosse pai de todos os que crêem, estando eles também na incircuncisão; a fim de que também a justiça lhes seja imputada" (Rm 4:10-11).

Vinculado à teologia da aliança está o argumento do batismo como sucedâneo da circuncisão. Baseiam-se no fato de que em ambos os Testamentos existem sinais que acompanham as respectivas alianças. Embora distintos, os sinais correspondem um ao outro, circuncisão e batismo. A base bíblica para o argumento do batismo como sucedâneo da circuncisão é Cl 2:11-13, que diz: 
"No qual também estais circuncidados com a circuncisão não feita por mão no despojo do corpo dos pecados da carne, a circuncisão de Cristo; sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos. E, quando vós estáveis mortos nos pecados, e na incircuncisão da vossa carne, vos vivificou juntamente com ele, perdoando-vos todas as ofensas". E como dois tipos de pessoas eram circuncidadas no Antigo Testamento, adultos convertidos à fé de Israel e meninos filhos de judeus, assim também adultos convertidos ao cristianismo e filhos de pais crentes devem ser batizados.

É inegável que a passagem menciona circuncisão e batismo. Porém, não é feita nenhuma relação entre eles, seja de contraste ou de similaridade. Tampouco o texto sugere que um é sucedâneo de outro. Paulo fala da circuncisão e fala do batismo, mas não estabelece nenhuma relação entre um e outro. A comparação não é feita entre a circuncisão e o batismo, e sim entre circuncisão da carne e circuncisão de Cristo e depois entre batismo e sepultamente e ressurreição de Jesus.  Paulo está falando de duas circuncisões. A primeira é física, a segunda é espiritual, "não feita por mão". Uma era exterior, a outra interior. Uma limita-se a um pedaço do prepúcio, a outra tira fora a natureza pecaminosa, expressa na frase "corpo do pecado da carne". Uma é de Abraão ou Moisés, a outra é de Cristo. Pela comparação feita, fica claro que o correspondente neotestamentário da circuncisão não é o batismo, e sim a regeneração, o que aliás é previsto ainda no Antigo Testamento e confirmado no Novo Testamento.

Porque "todas as nações são incircuncisas, e toda a casa de Israel é incircuncisa de coração" (Jr 9:26), Moisés e os profetas já proclamavam "circuncidai, pois, o prepúcio do vosso coração"  (Dt 10:16) e "circuncindai-vos ao Senhor, e tirai os prepúcios do vosso coração" (Jr 4.4). Como a conversão é demandada do homem, porém só possível pela operação divina, assim também a circuncisão espiritual foi prometida, nas palavras "o SENHOR teu Deus circuncidará o teu coração, e o coração de tua descendência, para amares ao SENHOR teu Deus com todo o coração, e com toda a tua alma, para que vivas" (Dt 30:6). O Novo Testamento entende a incircuncisão de coração como a natureza pecaminosa do homem, pois os "homens de dura cerviz, e incircuncisos de coração e ouvido, vós sempre resistis ao Espírito Santo" (At 7:51), assim a circuncisão espiritual é a regeneração "circuncisão é a do coração, no espírito, e não na letra; cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus" (Rm 2:29). O correspondente neotestamentário da circuncisão não é o batismo, e sim o novo nascimento. "A circuncisão somos nós, que servimos a Deus em espírito, e nos gloriamos em Cristo Jesus, e não confiamos na carne" (Fp 3:3).

É assim, por exemplo, que os judeus messiânicos entenderam a questão. O Jewish New Testament Commentary parafraseiam a passagem dizendo "vocês gentios foram circuncidados espiritualmente, uma vez que esta é uma circuncisão feita não por mãos humanas... mas pelo Messias" e interpretam "não significa que o batismo substituiu a circuncisão, que os judeus messiânicos podem batizar os seus filhos ao invés de circuncidá-los. Pelo contrário, é que, espiritualmente, os três requisitos para iniciação do gentio prosélito - circuncisão, batismo e sacrifício - agora são cumpridos quando se confia e se une ao Messias". Matthew Henry diz que "em Cristo nós somos circuncidados com a circuncisão feita sem mãos, pela obra da regeneração em nós, isto é, a circuncisão espiritual ou cristã... é a lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo". John Gill diz que a regeneração é a "circuncisão interna, o antítipo e a perfeição da circuncisão na carne". O Dicionário da Bíblia de Almeida declara que a circuncisão "significa a circuncisão espiritual, que resulta numa nova natureza, a qual é livre do poder das paixões carnais e obediente a Deus (Jr 4:4; Rm 2:29; Cl 2:11; Fp 3:3)", no que concorda com várias outras obras de referência consultadas. Até mesmo Calvino, em sua defesa do batismo infantil nas Institutas reconhece que "espiritualmente, já fostes circuncidados no tocante à alma e ao corpo. Tendes, pois, a manifestação da realidade que é muito superior à sombra" e explicando "qual é o verdadeiro sentido desta circuncisão carnal" diz que os os anabatistas afirmam que a "circuncisão foi uma figura da mortificação, não do batismo; o que, certamente, de muito bom grado admito". Em outra parte ele diz "a circuncisão, que denotava a regeneração...".

Mas e a referência a batismo no verso 12? Não implica que ele é o equivalente à circuncisão na dispensação da graça? Penso que não. Já vimos que Paulo não relaciona circuncisão e batismo na passagem, mas compara as duas coisas com outras. A "circuncisão de Cristo" não é uma referência à sua circuncisão aos oito dias de vida, mas à sua morte na cruz. Foi na cruz que Cristo fez o "despojo do corpo dos pecados da carne". Então Paulo relaciona a circuncisão com a morte de Cristo. Dando prosseguimento ao seu raciocínio, faz referência ao batismo, relacionando-o não à morte de Cristo, e sim ao sepultamento e ressurreição. O batismo não é uma representação da morte de Jesus, a Ceia o é mais apropriadamente. Então, para afirmar que os gentios já estavam completos (plenificados) pela morte, sepultamento e ressurreição de Jesus, Paulo refere-se tanto à circuncisão quanto ao batismo, sendo que a primeira aponta para a morte e o segundo ao sepultamento e ressurreição. Ele não coloca circuncisão e batismo relacionados entre si, nem como equivalentes ou sucedâneos.

Como eu disse acima, os argumentos da aliança e consequentemente do batismo como substituto da circuncisão são os mais sólidos na defesa do batismo de infantes. Porém, eles padecem de pouco apoio escriturísticos, uma teologia bíblica desautoriza o grosso de suas conclusões. Pois nem a teologia da aliança torna necessária o batismo infantil, nem a circuncisão é o antecedente bíblico do batismo, se o tema for desenvolvido a partir de uma teologia bíblica.

Além de depender de uma teologia desenvolvida com a finalidade de justificar o que a Bíblia não prescreve, nem a história prova ter sido a prática apostólica ou da igreja pós-apostólica, a teologia pedobatista acaba por trazer vários problemas, como veremos a seguir.

Leia Por que não sou pedobatista? - Final
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33 comentários:

  1. Graça e paz Clóvis.
    Eu estou acompanhando o desenrolar desse assunto, mesmo eu sendo batista e não tendo em nossa igreja a prática de batizar crianças, mas te confesso que o assunto está deveras interessante, tanto pelo assunto em si, quanto pelos comentários. Eu estive comentando com algumas pessoas a respeito desses artigos, da clareza como você escreve e principalmente pelos dados históricos que mostram o seu cuidado em falar de um assunto baseado em argumentos provados e não em achismos, como temos visto por aí. Que Deus continue te abençoando com essa inteligência ímpar. Tanto a você quanto aos debatedores.
    Finque na Paz!
    Pr. Silas
    PS: Estou publicando esses textos em meu blog.

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  3. O que eu posso dizer, depois de ler "Pela comparação feita, fica claro que o correspondente neotestamentário da circuncisão não é o batismo, e sim a regeneração, o que aliás é previsto ainda no Antigo Testamento e confirmado no Novo Testamento." e também depois de ler "O correspondente neotestamentário da circuncisão não é o batismo, e sim o novo nascimento. "A circuncisão somos nós, que servimos a Deus em espírito, e nos gloriamos em Cristo Jesus, e não confiamos na carne" (Fp 3:3).

    Eu não preciso falar mais nada. Clóvis, você colocou a prova bíblica para o credobatismo de uma forma que eu jamais conseguiria (pelo menos não agora! rs), e expos de forma clara e bíblica o porque o pedobatismo não é sustentável! É exatamente dessa forma que eu creio, e é exatamente isso o que eu penso, desde aquele primeiro pequeno debate que tivemos aqui. Pra dizer a verdade, desde que eu tive meu prepúcio espiritual tirado!

    Essa eu assino em baixo e com gosto. Não somente assino, mas coloco meu rg, cpf, e endereço junto.

    Sei que uma parte dos nossos irmãos não concordarão, mas que se apresentem argumentos e provas para pesarmos juntos! Eu nunca acreditei que o pedobatismo fosse uma "heresia". Mas sim uma coisa desnecessária e que infelizmente pode nos levar à ter uma idéia errada sobre assuntos espirituais. Não por ele em sí, mas pela cegueira espiritual do homem...

    Ao meu humilde ver, essa visão é muito mais "reformada" do que o pedobatismo.

    Mais uma vez, parabéns!
    Deus abençoe a todos.

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  4. Clóvis,

    Eu penso que o argumento mais forte do seu texto contra o pedobatismo é exatamente o inicial: o batismo não leva à regeneração e tampouco assegura a salvação. Ponto. Com isso, é derrubado todo o arcabouço bíblico dos que o defendem. Ademais, como eu já disse aqui em momento anterior, não há mesmo argumento bíblico consistente a corroborar o batismo infantil.

    Sou um batista decepcionado com a denominação, que vem se movendo por caminhos estranhos (Batista Lagoinha e outras mais)e absorvendo práticas heréticas - além de ser uma denominação de forte cunho arminiano. Portanto, posso dizer que tenho seguramente um perfil mais presbiteriano do que batista hoje. O único senão que tenho com os presbiterianos é exatamente o batismo infantil, que não entendo como bíblico.

    Todavia, quero confessar que não acho esse fato tão relevante. Não é algo que conspurca ou denigre a denominação, que no seu todo é admirável. Tanto que, após uma vida como batista, considero seriamente a possibilidade de me tornar um presbiteriano, exatamente pela sua firmeza doutrinária e a resistência às heresias tão comuns na atualidade.

    Grande abraço.

    Em Cristo,

    Ricardo

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  5. Neto e Clóvis, irmãos, uma pergunta: Se a circuncisão tem seu correspondente na regeneração, ( o que vc a concluí que dispensa o sinal de tal regeneração como representando o fato ) entende tb que a a santa ceia pode ser dispensada ?
    Ou para voce tb a pascoa não tem correpondencia com a santa ceia, mas apenas com aquilo que a poscoa reprensetou, a morte de Cristo?
    Quero desde já aqui confessar que, como presbiteriano, entendendo que os metodistas são mais coerentes do que nós. Eles levam o argumento da aliança ao seu desfecho necessario. As crianças deveriam tb participar da Seia do Senhor, se queremos que os irmãos batistas nos escutem no argumento da aliança. Por submissão á IPB, eu não posso fazer o que entendo ser o correto.

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  6. Luciano,

    Paz seja contigo.

    Eu não considero o batismo dispensável. É um mandamento de Deus, e embora não seja necessário à salvação, dele advém bênçãos. Há uma distância entre não considerar a circuncisão antecedente do batismo e desconsiderar o batismo em si desnecessário.

    Quanto à pedocomunhão, o próximo post fará uma referência.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  7. irmão Clóvis: o batismo é sinal da regeneração? ( antes de voltar na sua resposta á minha pergunta.)

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  8. Irmão Neto acredito que suas palavras geraram mais problemas "Não por ele(o pedobatismo ) em sí, mas pela cegueira espiritual do homem..." Gostaria de saber:
    o pedobatismo foi produzido pela cegueira espiritual do homem? Se sim, então ele é ( segundo o que vc disse ) um problema !
    Se a cegueira espiritual não produziu o batismo infantil, então quem foi?

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  9. Luciano,

    Infelizmente eu esperava que minhas palavras fossem mal interpretadas. E realmente foi. Perdoe-me.

    O que eu quis dizer é que, ao meu ver, ele não é uma ordenança bíblica. Em sí, ele não é uma heresia. Mas, por causa da cegueira espiritual do homem, o pedobatismo pode trazer más consequencias e más interpretações espirituais, como a regeneração batismal, principalmente pelas pessoas que ignoram a verdade espiritual do novo nascimento, e acham que o batismo salva o ser humano.

    Vale lembrar que não me dirijo aos presbiterianos e outras denominações protestantes, pois sei das suas razões para o pedobatismo, e sei que são objetivos louváveis que, ao meu ver, agradam a Deus.

    Mas o "perigo que a cegueira do homem pode trazer" não é a principal razão para eu não concordar com ele, claro. E sim a falta (ao meu ver), de fundamento biblico.

    Espero ter desfeito a confusão.

    Deus abençoe.

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  10. Ricardo Mamedes,

    Acho estranho você dizer "eu penso que o argumento mais forte do seu texto contra o pedobatismo é exatamente o inicial: o batismo não leva à regeneração e tampouco assegura a salvação", como se existisse algum pedobatista que defende tal declaração.

    Nenhum reformado pedobatista declara que o batismo leva à regeneração e nem tampouco assegura a salvação.

    Esse tipo de argumentação deve ser feita contra os católicos, e não contra pedobatistas reformados.

    Abraços.

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  11. Clóvis, você diz:

    "Portanto, a circuncisão não está associada à descendência espiritual de Abraão, mas à descendência física, a nação de Israel a quem foi dada a terra prometida. A circuncisão é o sinal da entrada na teocracia, e não na descendência espiritual".

    Você ignora que a circuncisão externa era sinal e selo de uma circuncisão interna muito mais importante. O despojamento físico da carne significava o despojamento espiritual da carne do coração pecaminoso. A circuncisão feita pela Igreja do Velho Testamento apontava para uma circuncisão muito maior, que somente Deus poderia realizar. Isto é claramente posto por Paulo em Romanos 2:28-29: “Porque não é judeu quem o é apenas exteriormente, nem é circuncisão a que é somente na carne. Porém judeu é aquele que o é interiormente, e circuncisão a que é do coração, no espírito”.

    Portanto, não nos surpreende o que Moisés diz aos judeus quando se dirige a eles, pouco antes destes entrarem na terra prometida. Ele diz: “O Senhor teu Deus circuncidará o teu coração, e o coração de tua descendência, para amares ao Senhor teu Deus de todo o coração e de toda a tua alma, para que vivas” (Dt. 30:6).

    Observe que Moisés está falando a homens que eram circuncidados exteriormente, mas que necessitavam de uma circuncisão interior. Eles tinham o sinal externo e visível, mas faltava-lhes a realidade interna e invisível. Além disso, o texto nos diz o que a verdadeira circuncisão (a circuncisão do coração) efetua: a remoção da incredulidade, resultando em amor a Deus e vida em vez de morte (“para que vivas”). A mesma coisa pode ser vista no mandamento de Moisés a Israel em Dt 10:16: “Circuncidai, pois, o vosso coração, e não mais endureçais a vossa cerviz”. Amai a Deus! Obedecei-O! Sede homens espirituais e não carnais! Todo esse assunto é resumido por Paulo em Romanos 4:11: “E recebeu (Abraão) o sinal da circuncisão como selo da justiça da fé...”.

    Aí está Clóvis. A circuncisão não é meramente um emblema nacional. É um sinal externo da justiça da fé. O significado da circuncisão é uma realidade espiritual.

    Continua...

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  12. Agora atente para o batismo. Muitos textos poderiam ser estudados para mostrar a conexão entre o batismo e a circuncisão, mas um só será suficiente. Em Col. 2:11-12 nós lemos: “Nele também fostes circuncidados, não por intermédio de mãos, mas no despojamento do corpo da carne, que é a circuncisão de Cristo; tendo sido sepultados juntamente com ele no batismo, no qual igualmente fostes ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos”. Aqui a circuncisão é descrita como um batismo!

    Isto só é possível porque eles significam a mesma coisa. Enquanto Moisés disse aos judeus circuncidados que eles não eram realmente circuncidados, agora Paulo diz a esses gentios incircuncisos que eles foram realmente circuncidados. Clóvis, o que significa dizer que o circuncidado não é realmente circuncidado? O que significa dizer que o incircunciso é na verdade um circuncidado?

    Paulo diz: "vós fostes também circuncidados”. Que tipo de circuncisão era aquela? Uma circuncisão feita “não por intermédio de mãos”. Que significa isso? O “despojamento (remoção) do corpo da carne” (da natureza carnal, do espírito rebelde). Quem a fez? Cristo a fez... pela “circuncisão de Cristo”. Como isso ocorreu? “Tendo sido sepultados juntamente com Ele no batismo”. O que isso efetuou? “No qual igualmente fostes ressuscitados mediante a fé”.

    Assim, fica claro que este batismo e esta circuncisão se referem à mesma obra interna de Deus. A circuncisão é feita sem mãos (a circuncisão de Cristo) e o batismo é a operação de Deus “que O ressuscitou dentre os mortos”. É essa circuncisão/batismo do coração que produz a fé num pecador... ressuscitados com Ele MEDIANTE A FÉ.

    Isto se torna ainda mais claro no próximo versículo (v. 13) porque Paulo diz que tudo isso aconteceu enquanto a pessoa era ainda um pecador, um incrédulo. Isto tornou vivos homens mortos (espiritualmente), e lhes obteve o perdão dos pecados: “E a vós outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões, e pela incircuncisão da vossa carne, vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os nossos delitos”.

    Longe de ser o caso de “batismo de crentes” é exatamente o oposto - é o batismo/circuncisão de um incrédulo, que faz dele um crente. Não é o batismo da água realizado por homens, mas o batismo do Espírito realizado por Deus. Não pode haver, portanto, dúvida de que o batismo e a circuncisão significam a mesma coisa. Há verdadeiramente uma continuidade do sinal da Aliança, algo que você veementemente ignora quando tenta diferenciar o significado da circuncisão do significado do batismo.

    Continua...

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  13. Diante do que foi exposto, há ainda mais um pequeno grande detalhe a ser notado aqui.

    Você diz: "Paulo relaciona a circuncisão com a morte de Cristo. Dando prosseguimento ao seu raciocínio, faz referência ao batismo, relacionando-o não à morte de Cristo, e sim ao sepultamento e ressurreição. O batismo não é uma representação da morte de Jesus...".

    Assim como exite uma relação entre a circuncisão e a morte de Cristo, há também uma relação entre o batismo e a morte do pecador (e a sua conseqüente ressurreição), visto que quem opera esta "morte do pecador" é a "circuncisão de Cristo".

    A circuncisão era o sinal de remoção da corrupção. Isto é, representa limpeza do pecado. O que é confirmado pela repetitiva chamada de Deus para que seu povo seja “circuncidado em seus corações” (Deuteronômio 10:16; 30:6; Isaias 52:1; Jeremias 4:4; 6:10; 9:25-26; Ezequiel 44:7-9).

    Claramente então, o corte da membrana que circunda o órgão (prepúcio) de geração da vida, exterior e físico, era simbólico da remoção interior e espiritual da corrupção do único centro da vida, do coração. O que tinham “corações incircuncisos”, por conseguinte, estavam destinados ao juízo de Deus (Levítico 26:41). Pelo que ao povo Deus mandava: “Circuncidai, pois, o prepúcio do vosso coração”. (Deut. 10:16).

    Clóvis, você mais uma vez ignora que o batismo tenha o significado do "despojamento da carne". Isto significa o batismo: a mortificação do velho homem e a subseqüente vivificação do novo homem, da nova natureza operada por Cristo.

    O batismo significa a morte do velho homem (em alusão à morte de Cristo), significa também o sepultamento deste velho homem e a ressurreição do novo homem.

    Da mesma forma é a circuncisão significando o despojamento da carne do prepúcio (a morte do velho homem). A circuncisão do coração, conforme você mesmo atesta, significa a regeneração (a ressurreição do novo homem).

    Continua...

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  14. Clóvis, há ainda uma última colocação.

    Você afirma: “a circuncisão não está associada à descendência espiritual de Abraão, mas à descendência física...”.

    Vamos ler um texto que você apenas citou mais não comentou. Trata-se de Rm 4:10-11:

    “Como lhe foi, pois, imputada? Estando na circuncisão ou na incircuncisão? Não na circuncisão, mas na incircuncisão. E recebeu o sinal da circuncisão, selo da justiça da fé, quando estava na incircuncisão, para que fosse pai de todos os que crêem, estando eles também na incircuncisão; a fim de que também a justiça lhes seja imputada".

    Somos informados que Abraão recebeu o sinal da circuncisão. Ora, que sinal é este? O sinal era o selo da justiça da fé. A circuncisão estava vitalmente relacionada à fé. Como sinal externo, ela emoldurava e selava a fé interna, conforme a Bíblia claramente diz. Como pode ser a circuncisão um sinal de um elemento espiritual? De acordo com a sua argumentação, a circuncisão não deveria ser sinal de um elemento físico? Outra coisa, o recebimento deste selo permitiu que Abraão fosse o pai de todos os que iam crer. Isso é muito interessante, pois tem a ver com a descendência espiritual de Abraão, e não com a descendência física. O que me chama mais atenção ainda é o fato dessa descendência receber o selo da justiça da fé por causa da fé de Abraão (isso me faz lembrar a crença de que a criança é batizada por causa da fé dos pais!!!).

    A circuncisão garantiu a Abraão ser pai de uma descendência espiritual. É o que atesta Mt 3.9: “e não comeceis a dizer entre vós mesmos: Temos por pai a Abraão; porque eu vos afirmo que destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão”. “nem por serem descendentes de Abraão são todos seus filhos; mas: Em Isaque será chamada a tua descendência. Isto é, estes filhos de Deus não são propriamente os da carne, mas devem ser considerados como descendência os filhos da promessa” (Rm 9.7,8). “Pois todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus... E, se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa” (Gl 3.27,29).

    A circuncisão tem a ver com a descendência espiritual de Abraão. Não é o ser filho carnal de Abraão que vale, e sim o ser filho da promessa feita ao patriarca!

    Clóvis, você diz que a “aliança de Deus com Abraão tinha dois elementos distintos”, fazendo uma dicotomia entre o elemento físico e o elemento espiritual. Mas o que me parece (diante do que vimos) é que o elemento físico da circuncisão representa, ou simboliza, um elemento superior e espiritual. Essa tal dicotomia que você tenta fazer não encontra base escriturística.

    Me desculpe pela série de comentários enormes! Espero suas considerações.

    Forte abraço!

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  15. Pr. Silas,

    Sinceramente, não é para tanto, e se alguma coisa é, o é para a glória de Deus.

    Pode reproduzir os artigos à vontade, nas condições da linceça Creative Commons.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  16. Neto,

    Idem ao que disse para o Pr. Silas. De qualquer forma, fico satisfeito com sua concordância.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  17. Ricardo,

    "Eu penso que o argumento mais forte do seu texto contra o pedobatismo é exatamente o inicial: o batismo não leva à regeneração e tampouco assegura a salvação. Ponto. Com isso, é derrubado todo o arcabouço bíblico dos que o defendem."

    Como alguém já lhe respondeu, os reformados (com exceção de parte dos anglicanos) não entendem o batismo como necessário à salvação ou como agente da regeneração. Por isso no primeiro post fiz questão de distinguir pedos e pedos.

    Apesar disso, e contro com a compreensão de meus irmãos pedobatistas para o que eu vou dizer, parece que o pedobatismo teve muito a ver com a regeneração batismal, sendo que a teologia reformada foi uma justificativa posterior para o não abandono da prática. Mas posso estar totalmente enganado aqui.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  18. Luciano,

    "Clóvis: o batismo é sinal da regeneração? (antes de voltar na sua resposta á minha pergunta.)"

    Creio que precisamos ver se tomamos o termo sinal com o mesmo significado. Para não deixar dúvidas, prefiro usar, pelo menos provisoriamente, o termo testemunho. O batismo é um testemunho da regeneração.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  19. Heitor,

    Antes de mais nada, obrigado pela sua valiosa contribuição ao tema. Vou lendo e respondendo parte por parte seus comentários.

    "Você ignora que a circuncisão externa era sinal e selo de uma circuncisão interna muito mais importante."

    Eu não ignoro. Volte para meu texto e verá que afirmo que a circuncisão física apontava para uma circuncisão espiritual, necessárias e impossível ao homem realizar. Essa circuncisão espiritual é a regeneração. Neste ponto, concordamos em gênero, número e grau.

    "A circuncisão não é meramente um emblema nacional. É um sinal externo da justiça da fé. O significado da circuncisão é uma realidade espiritual."

    Parece que o irmão não notou que a aliança abraâmica fala de duas descendências. Uma nacional física e nacional, outra espiritual e universal. O Novo Testamento reconhece essas descendências, fazendo a distinção entre elas e até mesmo contrapondo-as. E quando Paulo fala da descendência espiritual de Abraão, os seus filhos na fé, não os identifica com a obediência de Abraão em circuncidar-se, mas com a imputação da justiça pela fé. E Paulo faz questão de dizer que os crentes se identificam com a fé de Abraão, estando este incircuncidado. Portanto, a circuncisão identificava a descendência nacional, e não espiritual, de Abraão, conforme os texto que o irmão apresentou.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  20. Heitor,

    Você acerta em quase tudo quanto às premissas, mas erra nas conclusões que tira. Espero conseguir mostrar isso a partir de suas palavras.

    "Muitos textos poderiam ser estudados para mostrar a conexão entre o batismo e a circuncisão, mas um só será suficiente."

    Sinceramente, gostaria de ver alguns desses "muitos textos" que mostram que a circuncisão é o antecendente do batismo. Por ora, vamos nos voltar, de novo, para Col 2:11-12.

    “Nele também fostes circuncidados, não por intermédio de mãos, mas no despojamento do corpo da carne, que é a circuncisão de Cristo; tendo sido sepultados juntamente com ele no batismo, no qual igualmente fostes ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos”. Aqui a circuncisão é descrita como um batismo!"

    O primeiro ponto que quero destacar é sua conclusão: "Aqui a circuncisão é descrita como um batismo". Mas nós não estamos falando de "um batismo", e sim do batismo nas águas. Não estamos falando do "batismo do crente em Jesus", nem do "batismo com o Espírito Santo", mas do batismo nas ou com água. Então deixe-me perguntar, bem claramente: você entende que o batismo aqui referido é:

    a) O batismo de Cristo, lá no Jordão
    b) O batismo de Cristo, na cruz
    c) O batismo do crente, em Cristo
    d) O batismo do crente, ou do infante, nas/com água

    "Enquanto Moisés disse aos judeus circuncidados que eles não eram realmente circuncidados, agora Paulo diz a esses gentios incircuncisos que eles foram realmente circuncidados. Clóvis, o que significa dizer que o circuncidado não é realmente circuncidado? O que significa dizer que o incircunciso é na verdade um circuncidado?"

    Diga-me você. Da minha perspectiva, significa que o judeu circuncidado que não fosse regenerado, não era filho de Abraão. E que o gentio que crê em Cristo, mesmo não sendo circuncidado fisicamente, é regenerado. O que isso prova? No argumento paulino, que Cristo bastava para os colossenses serem perfeitos.

    "Assim, fica claro que este batismo e esta circuncisão se referem à mesma obra interna de Deus. A circuncisão é feita sem mãos (a circuncisão de Cristo) e o batismo é a operação de Deus “que O ressuscitou dentre os mortos”. É essa circuncisão/batismo do coração que produz a fé num pecador... ressuscitados com Ele MEDIANTE A FÉ."

    Você está apenas provando o meu ponto: a circuncisão física aponta para a regeneração. Isto está no meu texto, lembra?

    "Longe de ser o caso de “batismo de crentes” é exatamente o oposto - é o batismo/circuncisão de um incrédulo, que faz dele um crente. Não é o batismo da água realizado por homens, mas o batismo do Espírito realizado por Deus. Não pode haver, portanto, dúvida de que o batismo e a circuncisão significam a mesma coisa."

    Novamente, concordamos. Na verdade, você está fazendo o meu trabalho.

    "Há verdadeiramente uma continuidade do sinal da Aliança, algo que você veementemente ignora quando tenta diferenciar o significado da circuncisão do significado do batismo."

    Então, este é o ponto em que discordo de sua conclusão. Você argumentou o tempo todo sobre circuncisão e batismo espirituais com significando a regneração, com o que concordo plenamente, mas concluiu, à parte de suas premissas, que o batismo nas águas equivale a circuncisão.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  21. Clóvis,

    Onde o texto de Colossenses nos diz que o batismo ali mencionado é o batismo nas águas?

    Outra coisa, e mesmo se fosse, qual a diferença? Não é um só batismo? O batismo visível (com água) não é um sinal visível de um batismo invisível (com o Espírito)?

    Vc diz que ali não está significando o batismo do crente em Jesus, mas... Quem é, então, o batizado na morte de Cristo, se não for o cristão? O incrédulo?

    Ou vc prefere dizer que o batismo nas/com águas é diferente daquele batismo de Cristo? Neste caso, acho melhor vc definir o que é o batismo.

    Você discorda de mim quando digo que há uma continuidade do sinal da Aliança. Você está mostrando ser um dispensacionalista. Você não crê que a igreja do VT é a mesma do NT. Por isso é necessário que vc defina para nós aquelas questões que levantei: definir o que é a igreja, definir quem fazia parte da igreja do VT...

    Abraços.

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  22. Heitor,

    Deixa eu responder este seu último comentário, antes dos demais.

    "Onde o texto de Colossenses nos diz que o batismo ali mencionado é o batismo nas águas?"

    Não diz. Mas para que os pedobatistas possam recorrer a ela para mostrar alguma conexão entre circuncisão e batismo nas águas, tem que tomá-la com esse sentido. Entender essa referência ao batismo como significando regeneração joga uma pá de cal no argumento pedobatista em favor da equivalência entre circuncisão e batismo.

    "Vc diz que ali não está significando o batismo do crente em Jesus, mas..."

    Eu não disse. Trabalhei com o pressuposto de que a referência era ao batismo de crentes ou de infantes, pois do contrário a passagem torna-se irrelevante para o debate. Eu teria que ignorá-la.

    "Ou vc prefere dizer que o batismo nas/com águas é diferente daquele batismo de Cristo? Neste caso, acho melhor vc definir o que é o batismo."

    Minha posição é uma das alternativas que lhe propus. Mas estou disposto a trabalhar com a que você escolher como sua.

    "Você discorda de mim quando digo que há uma continuidade do sinal da Aliança. Você está mostrando ser um dispensacionalista. Você não crê que a igreja do VT é a mesma do NT. Por isso é necessário que vc defina para nós aquelas questões que levantei: definir o que é a igreja, definir quem fazia parte da igreja do VT..."

    Novamente, sugiro que releia meu texto, onde afirmo que sou aliancista. Leia também minhas respostas às suas perguntas, onde reafirmo que creio numa só aliança da graça e numa só igreja, no AT e NT. Ah, sim, existe dispensacionalista pedobatista.

    Agora, se não acredita em mim, então nada posso fazer. Terá que aceitar minhas palavras pelo que valem.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  23. Heitor,

    Agora voltando um pouco para considerar o pequeno grande detalhe.

    "Assim como exite uma relação entre a circuncisão e a morte de Cristo, há também uma relação entre o batismo e a morte do pecador (e a sua conseqüente ressurreição), visto que quem opera esta "morte do pecador" é a "circuncisão de Cristo"."

    De acordo. Porém, note que a circuncisão é uma referência à morte de Cristo, e não do pecador.

    "A circuncisão era o sinal de remoção da corrupção. Isto é, representa limpeza do pecado. O que é confirmado pela repetitiva chamada de Deus para que seu povo seja “circuncidado em seus corações” (Deuteronômio 10:16; 30:6; Isaias 52:1; Jeremias 4:4; 6:10; 9:25-26; Ezequiel 44:7-9)."

    Heitor, continuamos concordando. Estou quase me arrependendo de me dar ao trabalho de escrever meu texto, pois você está colocando o que eu acredito em palavras mais claras e incisivas que as minhas.

    "Claramente então, o corte da membrana que circunda o órgão (prepúcio) de geração da vida, exterior e físico, era simbólico da remoção interior e espiritual da corrupção do único centro da vida, do coração. O que tinham “corações incircuncisos”, por conseguinte, estavam destinados ao juízo de Deus (Levítico 26:41). Pelo que ao povo Deus mandava: “Circuncidai, pois, o prepúcio do vosso coração”. (Deut. 10:16)."

    Amém, amém e amém.

    "Clóvis, você mais uma vez ignora que o batismo tenha o significado do "despojamento da carne". Isto significa o batismo: a mortificação do velho homem e a subseqüente vivificação do novo homem, da nova natureza operada por Cristo."

    Finalmente algo que posso discordar um pouco. O que faz referência ao despojamento da carne é a circuncisão, e não o batismo. Repetindo o que extraio do texto:

    circuncisão => morte de Cristo (v. 11)
    batismo => sepultamento e ressurreição (v. 12)

    É só ler o texto com atenção, está lá.

    "O batismo significa a morte do velho homem (em alusão à morte de Cristo), significa também o sepultamento deste velho homem e a ressurreição do novo homem."

    Quanto a isso, estamos juntos. Apesar de que o termo "significa" aplicado a morte do velho homem e ressurreição do novo, considerando-se uma criança, pode gerar confusão entre batismo e regeneração.

    "Da mesma forma é a circuncisão significando o despojamento da carne do prepúcio (a morte do velho homem). A circuncisão do coração, conforme você mesmo atesta, significa a regeneração (a ressurreição do novo homem)."

    Então, não estamos longe de concordar um com o outro. Mesmo porque você parece estar usando fogo amigo.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  24. Clóvis,

    Vejo que nossas diferenças reside apenas no fato de você não crer que o batismo signifique o despojamento da carne. Ou seja, ela não faz referência a morte de Cristo.

    Bom, neste caso seria bom você postar algo sobre o batismo e aí poderemos discorrer um pouco sobre a significação do sacramento batismal.

    É por isso que eu disse no meu primeiro comentário à série que é a definição teológica do batismo que determinará se os filhos serão ou não batizados.

    Minha participação nesta série se encerra aqui, esperando que vc escreva algo sobre o batismo, ok?

    Abraços e fique com Deus.

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  25. Heitor,

    Chegando à última parte de seu comentário.

    Vamos ler um texto que você apenas citou mais não comentou. Trata-se de Rm 4:10-11: “Como lhe foi, pois, imputada? Estando na circuncisão ou na incircuncisão? Não na circuncisão, mas na incircuncisão. E recebeu o sinal da circuncisão, selo da justiça da fé, quando estava na incircuncisão, para que fosse pai de todos os que crêem, estando eles também na incircuncisão; a fim de que também a justiça lhes seja imputada".

    Não juulguei necessário comentar, mas se quiser uma detalhamento, posso oferecer.

    "Como pode ser a circuncisão um sinal de um elemento espiritual? De acordo com a sua argumentação, a circuncisão não deveria ser sinal de um elemento físico?"

    Não. Eu indiquei no meu artigo que a circuncisão apontava para a regeneração, que concordamos é espiritual.

    "Outra coisa, o recebimento deste selo permitiu que Abraão fosse o pai de todos os que iam crer. Isso é muito interessante, pois tem a ver com a descendência espiritual de Abraão, e não com a descendência física."

    Essa sua conclusão é livre, para não dizer imposta ao texto. Onde a descendência espiritual de Abraão é condicionada à circuncisão? Não em Romanos 4. Abraão poderia ter filhos espirituais sem ser circuncidado e sem circuncidar quem quer que fosse. Pedras não têm prepúcio, mas podem ser feitas descendência de Abraão. Outra afirmação usando de excessiva liberdade exegética é "a circuncisão garantiu a Abraão ser pai de uma descendência espiritual", citando Mt 3:9 e Rm 9:7-8) que nega que a descendência espiritual de Abraão dependa da circuncisão.

    "A circuncisão tem a ver com a descendência espiritual de Abraão. Não é o ser filho carnal de Abraão que vale, e sim o ser filho da promessa feita ao patriarca! Clóvis, você diz que a “aliança de Deus com Abraão tinha dois elementos distintos”, fazendo uma dicotomia entre o elemento físico e o elemento espiritual. Mas o que me parece (diante do que vimos) é que o elemento físico da circuncisão representa, ou simboliza, um elemento superior e espiritual. Essa tal dicotomia que você tenta fazer não encontra base escriturística."

    Sou forçado a discordar. A circuncisão não está relacionada à herança espiritual de Abraão. Primeiro, uma pessoa poderia ser circuncidada estando e permanecendo fora da aliança. Ismael que o diga. Segundo, uma pessoa pode fazer parte da herança de Abraão sem ser circuncidado. Tito que o diga (e os crentes gentios em coro com ele). Logo, a descendência espiritual de Abraão nem depende nem é assegurada pela circuncisão.

    E não sou eu que faço essa dicotomia, apenas concordo com Paulo. Ele deixa bem claro que os filhos de Abraão tanto são os da carne, como os da promessa. Os da carne é uma clara referência a descendência nacional, que não sem motivo é chamado de "a circuncisão". A outra descendência é identificada como sendo os "filhos da promessa", os crentes tomados dentre judeus e gentios. E Paulo sempre contrapõe uma a outra, nunca identificando os filhos da carne com os filhos da promessa. Agora, tendo isso em mente, leia novamente Gn 15 e 17, R 4 e especialmente Gálatas, e veja se não há essa dicotomia em Paulo.

    "Me desculpe pela série de comentários enormes! Espero suas considerações."

    Minha vez de pedir desculpas. Como respondi em viagem, com os livros na casa de Carpo, posso ter que retificar uma afirmação ou outra. Mas por enquanto é isso.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  26. Caros Heitor e Clóvis,

    Somente neste momento, e bem atrasado, vim a este post e vi as considerações errôneas a que chegaram com o meu incisivo comentário.

    Então vejamos, o Heitor (de certa forma respaldado pelo Clóvis em seu entendimento), assim refutou o meu comentário:


    Ricardo Mamedes,

    "Acho estranho você dizer "eu penso que o argumento mais forte do seu texto contra o pedobatismo é exatamente o inicial: o batismo não leva à regeneração e tampouco assegura a salvação", como se existisse algum pedobatista que defende tal declaração.

    Nenhum reformado pedobatista declara que o batismo leva à regeneração e nem tampouco assegura a salvação.

    Esse tipo de argumentação deve ser feita contra os católicos, e não contra pedobatistas reformados."

    Amigo Heitor, o que é isso? Você está colocando palavras que eu não disse na minha boca!!!

    Leia novamente e compreenda o raciocínio que eu fiz. Mas se há alguma incompreensão, deixe-me explicar: Eu simplesmente considero que, não sendo o batismo regenerador e nem salvífico, é igualmente irrelevante que seja feito em idade tenra. Ou seja, eu afirmei que o batismo infantil seria aconselhável caso fosse o contrário - embora sem pôr essa pecha nos presbiterianos. Por isso disse que a força do texto se circunscreve a essa afirmação do Clóvis, que é uma assertiva geral tanto de reformados quanto arminianos em sua grande maioria.

    Onde foi que eu disse, mediata ou imediatamente, que "reformados creem na regeneração através do batismo"? Ratifico: eu simplesmente aproveitei uma afirmação do Clóvis que é consenso entre crentes - arminianos e reformados - no sentido de que o batismo não leva à regeneração e salvação, para enfraquecer e refutar o argumento do pedobatismo, sem contudo afirmar nada sobre a fé de quem quer que seja na regeneração do batismo! Calma aí amigo!

    Tanto que, se vocês bem observarem, notarão que eu afirmei a firmeza doutrinária da denominação presbiteriana, não achando sequer relevante o fato de ter entre as suas doutrinas o pedobatismo - embora entendendo que não tem grande alicerce bíblico. Exatamente por considerar - como quase todo mundo - que o batismo não leva à regeneração e salvação.

    Compreenderam meus amigos, ou preciso explicar mais?

    Grande abraço.

    Ricardo

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  27. Clóvis,

    Disse que minha participação havia se encerrado neste debate, mas navegando pela internet, encontrei um argumento bastante válido e gostaria de compartilhar isso com você e seus internautas.

    Em 1 Coríntios 10.1,2, as Escrituras dizem que os israelitas, ao saírem do Egito, foram batizados na nuvem e no mar, e o verso seis acrescenta: "estas cousas se tornaram exemplos para nós". Fica a pergunta: mas qual o exemplo? E quais israelitas receberam tal batismo? A Escritura responde: "Assim partiram os filhos de Israel de Ramessés para Sucote, cerca de seiscentos mil a pé, somente de homens, sem contar mulheres e crianças" (Êxodo 12.37). De acordo com o relato bíblico, as crianças foram batizadas na nuvem e no mar, juntamente co os adultos, e, segundo a declaração paulina, isso um exemplo para nós hoje (1 Coríntios 10.6).

    Que exemplo é esse que Paulo disse que era para nós? O que esse exemplo tem a ver com o relato do batismo de crianças na nuvem e no mar?

    Abraços.

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  28. Ricardo Mamedes,

    Compreendido!

    Abraços.

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  29. Heitor,

    Obrigado por contribuir com o debate envolvendo Cl 2:11. Se bem me lembro, alguns tem essa passagem como prova cabal de que o batismo tem na circuncisão seu antecedente. Porém, penso que demonstrei que pode não ser bem assim.

    Na verdade, gostaria de ver uma exegese pedobatista dessa passagem.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  30. Quanto ao post sobre o signifado teológico do batismo, pretendo escrever a respeito. Mas vai demorar um pouco, primeiro porque o tempo anda mais curto que coice de porco e segundo que não quero ser monotônico.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  31. Clóvis, excelentes textos sobre o pedobatismo. Eu também leio e releio e não vejo coerência nos argumentos pró-pedobatistas. Muito boas as suas conclusões. Um abraço!

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    Respostas
    1. Estamos juntos ao considerar que falta ao pedobatismo consistência bíblica. Porém, não chego ao ponto de considerar um batismo realizado num recém nascido inválido, desde que tenha sido realizado por uma igreja ortodoxa e seguido de confissão de fé, quando adulto.

      Em Cristo,

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  32. Se vc não é pedobatista não pode se definir como reformado.

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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